Bom dia pessoal,
Seguimos abordando a filosofia de investimentos e estratégias da Universa Investments. Antes de seguirmos, gostaria de trazer alguns dados sobre o fundo que acabei não citando no texto passado. A gestora foi fundada em 2007, possuindo atualmente US$ 10 bilhões sob gestão, e um de seus fundos chegou a obter retornos de 3600% em março desse ano, no auge das quedas nas bolsas geradas pela pandemia.
Apesar do retorno absurdo, é importante deixar claro que, apesar do retorno espetacular, não é assim que o fundo se propõe a “ganhar” dinheiro, mas foi sua estratégia de “defesa” ou “mitigação de risco” como consta no próprio site da Universa, e aqui já vejo uma grande lição que podemos retirar da estratégia da gestora: Na hora de investir, se proteger de grandes perdas é mais importante do que conseguir altos retornos. A matemática é simples: se em um determinado ano, seu portfólio de, por exemplo, R$ 10 mil cair 50%, você precisará de um retorno de 100% nos R$ 5 mil restantes para retornar ao patamar inicial.
Contudo, creio que já foi bem difundido esse ano que, para conseguir retornos que permitam uma criação de riqueza minimamente razoável, é necessário se expor a ativos de renda variável. Sempre foi assim no mundo todo, e agora estamos nos acostumando com a ideia aqui no Brasil, com a SELIC a 2% ao ano. E é nesse ponto que entra a arte dos investimentos: como buscar mais retorno evitando grandes quedas – a famosa relação risco-retorno. Como vocês verão quando abordarmos outros fundos e gestoras, a diferenciação entre eles sempre estará em um desses aspectos: ou na busca por retorno ou na redução de risco.
No caso da Universa, Mark Spitznagel aplica o conceito de tail hedging (ou proteção de cauda, numa tradução literal bem ruim feita pelo que vos escreve) que é uma clara influência da obra de Nassim Taleb, e para entendermos o tail hedging , temos que antes entender o que são os “cisnes negros”, que é um outro conceito importantíssimo da obra talebiana.
(Parênteses técnico: o conceito de cauda vem da distribuição Normal gaussiana. No caso dos mercados em geral, a ocorrência dos cisnes negros faz com que a distribuição dos retornos tenha “caudas” mais grossas do que na distribuição normal, conforme os gráficos abaixo)
Pegando a definição da teoria do Cisne Negro do nosso glorioso Wikipedia, um “cisne negro” seria: “Um acontecimento de impacto desproporcionado ou um evento raro aparentemente inverosímil, para lá das expectativas normais históricas, científicas, financeiras ou tecnológicas”. O alto impacto e a impossibilidade de calcular possibilidades associadas à ocorrência de cisnes negros é o que leva à necessidade do tail hedging, que é uma estratégia de proteção que visa se proteger (e em alguns casos até se beneficiar) desses eventos pouco prováveis de alto impacto.
Para executar essa estratégia, o fundo adquire opções de venda de ações, que funcionam como “seguros” contra quedas do mercado. A ideia é que o fundo abre mão de uma parte da rentabilidade de suas posições em ações (stocks) e renda fixa (bonds), conforme mostrado no gráfico abaixo:
Na ocorrência dos cisnes negros, essas opções se valorizam muito, compensando a queda dos outros ativos.
Creio que abordamos os pontos mais técnicos da estratégia da Universa Investments. Amanhã voltamos com um resumo do que abordamos nesses últimos dois textos e talvez já entraremos na próxima gestora.
Abraços!